Desde a morte do grande tricampeão mundial Ayrton Senna, o Brasil e porque não dizer o mundo, aguarda a chegada de algum piloto que “ressuscite” o mito das pistas. Logo após a morte do piloto já saímos procurando um substituto a altura para revivermos os feitos e legado que fora deixado pelo ídolo. Não basta ser um piloto apenas, tem de ser parecido com a forma como o Ayrton era visto pelas pessoas. Determinado, concentrado, que não tinha medo do sistema, e claro, usar o mesmo macacão vermelho dos áureos tempos da McLaren, e o capacete amarelo com as imaculadas listras azul e verde.
Rubens Barrichello foi o primeiro a ousar assumir esta posição perante a mídia e a torcida brasileira. Menos de um ano após a morte do piloto, Rubinho largava para o GP do Brasil em Interlagos em uma Jordan problemática e usando um capacete que mesclava as cores do tricampeão com a pintura do próprio casco. Foi uma lástima, carro e piloto ainda não estavam em um nível bom de competição. Não fez nada na corrida como no restante do campeonato. A carreira de Rubens foi pautada a partir de então pela comparação entre os resultados que conseguia e as monstruosas performances do Ayrton, pura covardia.
Felipe Massa também já foi capa de revista italiana onde a manchete perguntava algo como: “- É o novo Senna?” Não, não era, não é e não será. Senna ficou no maldito muro da Tamburello em 1994, os demais são apenas pilotos comuns.
Bruno Senna desde que surgiu para o automobilismo profissional em 2004, dez anos após a morte do tio, despertou os holofotes da mídia mundial para cima de si. Agora sim era o novo Senna, os traços físicos estavam lá, o olhar característico, o capacete amarelo com as listras, tudo estava perfeito. Confesso que acreditei que o milagre da nostalgia seria possível. O tricampeão estava de volta às pistas. Mas ponderei um pouco, pois me preocupava o fato dele ter começado a correr aos 21 anos e não ter passado pelo kartismo. Alertava aos amigos que lhe faltaria a escola principal que forma os maiores campeões, não tem jeito amigos, sem o aprendizado do kart não vai, não decola. Falta a Bruno quilometragem, borracha queimada, reflexos treinados e muito mais, quem entende do assunto sabe do que estou falando.
Bruno passou a reviver o tio em diversas apresentações pelo mundo da Fórmula 1 conduzindo carros consagrados pelo campeão. Eu o vi em duas oportunidades conduzindo tais carros. A primeira ele encheu os meus olhos ao dar três voltas no domingo do GP do Brasil de 2004 ao volante da Lotus Renault de 1986, o carro que eu sempre quis ver de perto. A segunda oportunidade, desta vez muito melhor documentada por mim foi no GP do Japão de 2010, ele fez uma única volta com a Lotus Renault de 1985. Bruno ainda pilotou alguns carros da McLaren em festivais.
Bruno obteve resultados apenas medianos nas categorias pelas quais passou, principalmente na GP2, onde apesar de conquistar um segundo lugar no geral em 2008, perdeu um título contra um inofensivo Giorgio Pantano, mesmo dispondo de um equipamento de primeira, como em todos os anos que competiu. Em 2010 chegou finalmente na Fórmula 1 pela fraquíssima equipe Hispania, onde não teve a oportunidade de fazer muita coisa e por diversas vezes teve sua posição na equipe ameaçada, apesar da boa quantidade de patrocinadores que o acompanhava.
Em 2011 tivemos um último fio de esperança, com o terrível acidente sofrido pelo Robert Kubica, Bruno como primeiro piloto reserva da Renault - Lotus poderia assumir a vaga para disputar a temporada. Seria perfeito, eu até me empolguei, mais uma vez dominado pela nostalgia. Seria fantástico, a Lotus de volta à Fórmula 1, pintada de preto e dourado, com motor Renault, patrocínio da Elf, estava perfeito, seria a volta não só do piloto, mas do time todo, faltava apenas alguém bancar o saudoso Peter Warr no comando. A ironia é que o próprio piloto havia brincado na apresentação que se algum titular quebrasse a perna, o carro seria dele.
Seria... A Renault - Lotus realizou testes com o brasileiro e também com o veterano e limitado alemão Nick Heidfeld. Nick tem a mostrar no currículo apenas experiência em mais de dez anos pilotando carros de Fórmula 1, mais nada. O Heidfeld é de uma linha de pilotos estranhíssima para falar a verdade, não anda em último, mas sempre fica atrás de no mínimo uns sete carros ao final da corrida, vai entender...
Em suma, esperamos demais de Bruno, ele aceitou vestir o personagem do tio, o parentesco abriu portas, é óbvio, mas não pode ir além do que ele é, apenas Bruno. Senna é apenas um sobrenome, não adianta esperar nada além. Mas para ser um pouco mais justo, nunca esperei que ele viesse a ser igual ou melhor do que o tio, mas andar mais que o Nick Heidfeld era o mínimo que ele poderia fazer. Apesar de toda a experiência do Heidfeld em andar no meio do pelotão.
Ayrton ficou no passado, assim como as vitórias e títulos que conquistou, chega de tentarmos revivê-lo na pele de outros pilotos. Bruno não é o Ayrton Senna, aliás, Bruno nem consegue ser Heidfeld. Não adianta cobrarmos ou sonharmos.
Texto escrito por Daniel Gimenes.
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